Ouvir português nas ruas de Haile Plantation pode não ser comum, mas um restaurante na esquina do Haile Village Center toca clássicos brasileiros suavemente em suas caixas de som.
O pátio do Samba Brazilian Kitchen é decorado com luzes penduradas por cima de mesas charmosas. A poucos metros, há um pequeno parque com balanço e escorregador — um atrativo que, segundo a moradora Elisana Elliott, contribuiu para tornar o Samba em um de seus restaurantes preferidos.
“O Samba é um ganho para Gainesville”, disse Elliott.
O restaurante é aconchegante — o tipo de lugar em que garçons e clientes se chamam pelo nome. Mas essa proximidade se torna difícil quando um cliente fiel expressa decepção com o aumento dos preços.
Desde que as tarifas foram impostas sobre produtos brasileiros, os funcionários do Samba têm enfrentado essas conversas.
Para pequenos negócios, as medidas do presidente Donald Trump obrigam empresários, como Luiz Gonzaga, dono do Samba, a tomar decisões difíceis.
Trump assinou uma ordem executiva aumentando as tarifas sobre produtos importados do Brasil por 40%, a partir do dia 30 de Julho, elevando a taxa total para 50%. O documento justificou o aumento alegando “políticas, práticas e ações recentes” do governo brasileiro — citando a perseguição á Jair Bolsonaro e seus apoiadores como “violações de direitos humanos”.
Bolsonaro foi acusado pelo Supremo Tribunal Federal de uma tentativa de golpe de Estado após sua derrota nas eleições de 2022. Em setembro, o ex-presidente foi condenado a 27 anos de prisão, uma decisão que levou Trump a declarar que estava “muito insatisfeito".
A pressão das tarifas
Após celebrar o primeiro aniversário do restaurante em Setembro, Gonzaga disse que ele e seus sócios não esperavam a mudança das tarifas. O aumento é particularmente difícil porque o restaurante ainda está se firmando.
“Essa incerteza sobre qual será o próximo preço é muito prejudicial para o negócio”, ele disse.
O Samba abriu em 2024 depois que um grupo de três casais de amigos, que se deram o nome de “a Bolha”, decidiu levar a sério as brincadeiras sobre abrir um restaurante brasileiro. Durante a pandemia, o grupo costumava conversar sobre a saudade que sentiam pela cultura e da comida de casa, e concordaram que Gainesville precisava de um restaurante Brasileiro.
O objetivo inicial do Samba, disse Gonzaga, era apresentar às pessoas a culinária Brasileira além do churrasco tradicional. Hoje, ele considera que o processo foi pessoalmente gratificante, mas financeiramente desafiador — desafios que se intensificaram com as novas tarifas.
Os distribuidores ainda não repassaram todo o custo aos clientes, disse Gonzaga, mas, até agora, ele estima que o Samba sofreu aumentos de 20% a 30%, dependendo do produto.
Gonzaga teve que tomar decisões difíceis para adaptar o restaurante, como reduzir o uso de carne seca e aumentar os preços do cardápio de 5% a 10%. Mesmo assim, nem todos os custos podem ser repassados aos consumidores — Gonzaga não quer afastar os clientes que não podem pagar mais caro.
“Queremos que o restaurante seja financeiramente acessível para todos”, ele disse.
Por outro lado, se o Samba absorver todos os aumentos sem repassá-los, o negócio sofrerá a longo prazo. O dinheiro que ele gasta hoje para sustentar as mudanças, disse Gonzaga, é o mesmo que gostaria de investir no restaurante.
Perto de 30% dos produtos do Samba são importações diretas. Alguns ingredientes, como a mandioca, são substituíveis; outros, como o refrigerante Guaraná, não.
Gonzaga disse que a cerveja Cerpa teve que sair do cardápio, uma mudança que desapontou alguns clientes. Os distribuidores, que compram produtos com meses de antecedência, nao querem se comprometer em momentos de preços tão incertos, trazendo escassez de alguns produtos que o Samba utiliza.
As mudanças no cardápio ajudaram a evitar demissões, mas Gonzaga disse que é difícil planejar o futuro do negócio diante de tanta instabilidade.
“No fim, as tarifas acabam sendo divididas entre os donos de negócios e os consumidores, e isso afeta a vida das pessoas todos os dias”, ele disse.
Moradora de Gainesville e cliente do Samba, Shirley Campos, contou que sempre sentiu falta de um restaurante brasileiro na cidade. Quando era estudante na UF, não havia nenhum.
Para ela, a comida do Samba é fiel ao sabor do Brasil.
“[O Samba] dá esse senso de comunidade para nós dentro da cidade”, ela disse, “não só para atrair todos os brasileiros que estão, mas outras pessoas também locais”
Campos disse que acredita que o aumento das tarifas representa um risco para pequenos negócios e para o país inteiro.
O lado dos fornecedores
Os fornecedores de produtos brasileiros também enfrentam decisões difíceis com as novas tarifas.
Fernanda Nogueira, uma gerente da empresa All Brazilian Imports and Exports, disse que o mercado da companhia deve diminuir 20% por causa da suspensão das importações de alguns produtos.
“Tem alguns produtos que vão ficar inviável”, ela disse.
A All Brazilian atende comunidades brasileiras e latino-americanas nos EUA inteiro, incluindo restaurantes, padarias e mercados. Seu primeiro cliente, disse Nogueira, foi a rede de churrascarias Fogo de Chão, em Dallas.
Hoje, a cerveja Cerpa custa US$50 por caixa, e, em comparação com marcas mais baratas como a Heineken, Nogueira diz que não vale mais a pena importar. A empresa está repassando 20% dos custos adicionais aos clientes e absorvendo o restante.
Para isso, a All Brazilian aceitou reduzir a margem de lucro e começou a buscar novos mercados internacionais que vendem produtos substitutos. A tapioca, por exemplo, agora será importada da Tailândia para atender às padarias.
Antes, a Fogo de Chão comprava cerca de US$5.000 por semana, disse Nogueira; agora, a rede compra apenas US$1.500, devido aos aumentos de preços.
Nogueira supervisiona os centros da empresa no Oeste da Florida, Atlanta, Nashville e Dallas. Ela disse que três funcionários foram demitidos para cortar custos após a imposição das tarifas. Agora, ela conta apenas com um funcionário em Nashville, um em Atlanta e dois em Orlando — o que tornou seu próprio trabalho mais exaustivo.
Ela acredita que Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisam negociar um novo acordo. Enquanto isso, a empresa está mudando o foco para bebidas alcoólicas de países como o México.
O centro da empresa em Miami, disse Nogueira, demitiu todos os funcionários, menos uma, que agora gerencia sozinha o mercado local.
“Hoje, você acaba trabalhando mais e ganhando menos”, ela disse.
Contato: Maria Arruda – marruda@alligator.org. Siga no X (Twitter):@mariazalfarruda

Maria is the Fall 2025 student government reporter for the Alligator. She's a sophomore journalism and political science major at UF and hopes to work as a political correspondent one day! Maria loves to read, hang out with her friends, see her family and go to the gym in her spare time.




